A
polícia e os tabefes
Mano! Num é possível... A gente tá vivendo num
Estado de policiamento fofucho? Se não estamos, ao menos é o que parece. Tá
todo mundo tão magoado com os pescotapas que o coronel da polícia militar levou,
que parece até terem batido num ursinho carinhoso. Não me leve a mal não, senhor
Coronel. Nada contra sua militaríssima pessoa, mas acho que até o senhor,
dolorosamente e de coro quente, há de convir que “demorou pra abalar”.
![]() |
Procurem entender às citações |
Longe de fundamentar a violência como meio
inescapável pra produzir qualquer efeito, digo, sem medo de cometer uma injustiça
contra os policiais, que essa foi uma reação mais do que previsível e aceitável
para o que vem acontecendo nas ruas. Calma, jovem e escandalizado leitor! Eu não
tive um surto de maniqueísmo reducionista e me autoproclamei
comandante-em-chefe da revolução. Relaxa a paçoca, Reinaldo Azevedo. As hordas
comunistas ainda não estão enfileiradas.
Não estou pedindo aqui nenhuma execução em praça
pública dos sujeitos que fazem parte dessa sujismunda corporação. Estou dizendo
o que, pra mim, é o óbvio ululante. Acompanhe só, em qualquer jornaleco em que
preferir gastar suas já cansadas pestanas, a história dos movimentos de rua que
aconteceram no Brasil de junho pra cá. Se você viu alguém cego, ferido,
asfixiado, esculachado, trucidado, rasgado ou até mesmo morto, repare bem; O
sujeito que apanhou, na esmagadora maioria das vezes, estava vestindo uma farda?
Responda com a razão e amoleça esse embrutecido coração.
NÃO, caros amantes de beagles! Eu não estou dizendo
com isso que a velha máxima hamurabiana cabe pra esse caso. Não é o “olho por
olho” que está em questão aqui, mas uma reação à opressão de Estado,
fundamentado por uma instituição, lembremos, MILITAR. Repito: Não é o caso de
endossar a violência cometida contra esse agente da lei (lei de quem e para
quem), mas de analisar quais os motivos dessa agressão. Esse coronel carrega, inevitavelmente
assim como todos nós, incluindo o bandido da crônica anterior (Leia. É legal),
a marca de sua classe e dos interesses que ela representa. Os interesses que
esse sujeito leva consigo, (Não sei se é um homem bom ou mau, pai de família ou
frequentador de cabarés, barbudo ou escanhoado, não interessa) por mais que ele
não seja um amante inveterado da corporação, são os de um Estado que,
ultimamente, expulsa violentamente os cidadãos que se manifestam nas ruas e
diariamente, promove um massacre nas periferias.
![]() |
Matem ele! |
![]() |
Salvem ele! |
Como disse em outras croniquetas da vida
umbabariana, acredito que a violência legitimada pelos aparelhos políticos,
simbólicos e culturais é a força motriz e perpetuadora de todas as outras.
Acredito sim, e agora como franca tomada de posição, que os atos simbólicos dos
que se utilizam da tática Black Block são infinitamente menos danosos e
preocupantes que as centenas de manifestantes feridos e criminalizados por uma
lógica que sempre os chamou de vândalos e bandidos. O ônus que a polícia militar traz como
instituição é, a meu ver, bem maior que a simbólica proteção que ela traz. Digo
simbólica por que, de real, só a proteção ao patrimônio e às classes
cristalizadas no poder.
Com tudo isso, senhor coronel e pacientes leitores
que corajosamente chegaram até aqui, confesso que virei o rosto no momento em
que os respingos de ódio atingiram a tela da minha televisão. Decididamente não
é legal ver alguém apanhando. Não estou aqui fazendo torneio retórico para
esconder minha opinião. Sou, como bom ponta de lança e amante das coisas
lúdicas da vida, radicalmente contrário a intervenções militares em lugares
onde o diálogo civil deveria imperar. Em contrapartida, não acho que a
depredação do patrimônio privado impossibilita a realização desse diálogo,
antes denuncia e chama atenção para um lugar em que uma das partes sempre se negou
a debater.
Além da presunção de achar que mereço ser lido,
vocês sabem que escrevo assim, como quem gorfa. Não gosto de entendia-los
passando assim inescrupulosamente dos 140 caracteres. Só deixo alguns pontos
para a reflexão e pras próximas croniquetas: Há legitimidade na tática Black
Block? A mídia tem tratado as manifestações de maneira imparcial? Por que a
Dilma não disse nada à família do Amarildo, mas mandou apoio ao exaustivamente
citado Coronel? Opinem e me esculachem se quiserem. Prometo cronicar sobre
esses assuntos assim que voltar de um churrasco que Hernane Brocador fará lá na
gávea. Pode demorar. Até.
você escreve coisas muito boas, mas as enfeita com uma rebusquêz de quem ainda não encontrou seu estilo.
ResponderExcluirMas nesse texto, concordo com tudo que foi dito, exceto as firulas textuais.