segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A polícia e os tabefes

A polícia e os tabefes

Mano! Num é possível... A gente tá vivendo num Estado de policiamento fofucho? Se não estamos, ao menos é o que parece. Tá todo mundo tão magoado com os pescotapas que o coronel da polícia militar levou, que parece até terem batido num ursinho carinhoso. Não me leve a mal não, senhor Coronel. Nada contra sua militaríssima pessoa, mas acho que até o senhor, dolorosamente e de coro quente, há de convir que “demorou pra abalar”.
Procurem entender às citações

Longe de fundamentar a violência como meio inescapável pra produzir qualquer efeito, digo, sem medo de cometer uma injustiça contra os policiais, que essa foi uma reação mais do que previsível e aceitável para o que vem acontecendo nas ruas. Calma, jovem e escandalizado leitor! Eu não tive um surto de maniqueísmo reducionista e me autoproclamei comandante-em-chefe da revolução. Relaxa a paçoca, Reinaldo Azevedo. As hordas comunistas ainda não estão enfileiradas.

Não estou pedindo aqui nenhuma execução em praça pública dos sujeitos que fazem parte dessa sujismunda corporação. Estou dizendo o que, pra mim, é o óbvio ululante. Acompanhe só, em qualquer jornaleco em que preferir gastar suas já cansadas pestanas, a história dos movimentos de rua que aconteceram no Brasil de junho pra cá. Se você viu alguém cego, ferido, asfixiado, esculachado, trucidado, rasgado ou até mesmo morto, repare bem; O sujeito que apanhou, na esmagadora maioria das vezes, estava vestindo uma farda? Responda com a razão e amoleça esse embrutecido coração.

NÃO, caros amantes de beagles! Eu não estou dizendo com isso que a velha máxima hamurabiana cabe pra esse caso. Não é o “olho por olho” que está em questão aqui, mas uma reação à opressão de Estado, fundamentado por uma instituição, lembremos, MILITAR. Repito: Não é o caso de endossar a violência cometida contra esse agente da lei (lei de quem e para quem), mas de analisar quais os motivos dessa agressão. Esse coronel carrega, inevitavelmente assim como todos nós, incluindo o bandido da crônica anterior (Leia. É legal), a marca de sua classe e dos interesses que ela representa. Os interesses que esse sujeito leva consigo, (Não sei se é um homem bom ou mau, pai de família ou frequentador de cabarés, barbudo ou escanhoado, não interessa) por mais que ele não seja um amante inveterado da corporação, são os de um Estado que, ultimamente, expulsa violentamente os cidadãos que se manifestam nas ruas e diariamente, promove um massacre nas periferias.



Matem ele!

Salvem ele!


Como disse em outras croniquetas da vida umbabariana, acredito que a violência legitimada pelos aparelhos políticos, simbólicos e culturais é a força motriz e perpetuadora de todas as outras. Acredito sim, e agora como franca tomada de posição, que os atos simbólicos dos que se utilizam da tática Black Block são infinitamente menos danosos e preocupantes que as centenas de manifestantes feridos e criminalizados por uma lógica que sempre os chamou de vândalos e bandidos.  O ônus que a polícia militar traz como instituição é, a meu ver, bem maior que a simbólica proteção que ela traz. Digo simbólica por que, de real, só a proteção ao patrimônio e às classes cristalizadas no poder.

Com tudo isso, senhor coronel e pacientes leitores que corajosamente chegaram até aqui, confesso que virei o rosto no momento em que os respingos de ódio atingiram a tela da minha televisão. Decididamente não é legal ver alguém apanhando. Não estou aqui fazendo torneio retórico para esconder minha opinião. Sou, como bom ponta de lança e amante das coisas lúdicas da vida, radicalmente contrário a intervenções militares em lugares onde o diálogo civil deveria imperar. Em contrapartida, não acho que a depredação do patrimônio privado impossibilita a realização desse diálogo, antes denuncia e chama atenção para um lugar em que uma das partes sempre se negou a debater.


Além da presunção de achar que mereço ser lido, vocês sabem que escrevo assim, como quem gorfa. Não gosto de entendia-los passando assim inescrupulosamente dos 140 caracteres. Só deixo alguns pontos para a reflexão e pras próximas croniquetas: Há legitimidade na tática Black Block? A mídia tem tratado as manifestações de maneira imparcial? Por que a Dilma não disse nada à família do Amarildo, mas mandou apoio ao exaustivamente citado Coronel? Opinem e me esculachem se quiserem. Prometo cronicar sobre esses assuntos assim que voltar de um churrasco que Hernane Brocador fará lá na gávea. Pode demorar. Até.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um cara baleado numa moto

Um cara baleado numa moto


Não é fácil. Ninguém disse que seria... Não passo esse tempo todo calado em vão. Ou melhor, passo. Não que escrever seja alguma coisa além de vã, mas pelo menos é um vômito, uma diarréia que expurga e limpa da banal virose do dia-a-dia. Virose essa que é metáfora. Mas nunca conheci uma que não fosse, já que qualquer sintoma que te leve ao hospital vira rápida canetada do displicente médico que logo sentencia com o que parece ser sua carta coringa: Fique tranqüilo, é só uma virose. E você lá, a sangrar por todos os orifícios, feliz por te acalmarem com uma caganeira.

Mas esse não é o objeto dessa croniqueta, É claro que daria pra falar um bocado de coisa relacionando médicos e caganeira. A reação da classe, tão linda e elitista, unida contra o programa mais médicos, por exemplo. Foi fofo ver o pessoal todo revoltado, subindo pra paulista de táxi, reivindicando contra o regime de escravidão que seria instaurado contra os “coitados médicos cubanos”. Escravidão essa que, além de fazer parte de uma concepção branca e deslocada do conceito, só preocupava na medida que fazia sombra aos salários da categoria. Mas isso são águas reacionárias passadas. Só trago à tona pela já declarada virose existencial.

Agora a parada é outra, mas ainda é a mesma. Explico: É evidente, logo pelo título desse labiríntico textolho, que a treta agora é o novo viral de internet. Um sujeito na zona leste, andando com sua moto e com uma camerazinha bacana na cabeça, é abordado por dois bandidos que, ao tentarem levar a motocicleta do cinegrafista/motoqueiro têm seus planos frustrados por um policial. A versão oficial: Ao perceber que a vítima estava em risco e que o mau elemento sacaria do seu revólver para deter a investida policial, o rapaz fardado dá dois tiros, fazendo um cair e outro fugir em disparada. (notem o caminhar de caranguejo do policial, logo após atingir o meliante, que denota a comicidade absurda até em fatos radicalmente trágicos) Não entrarei nos pormenores dessa versão que, sim, pode ser muito bem relativizada pelo vídeo, mas nas conseqüências discursivas e ideológicas que decorreram do acontecido.

Amigos, senhores, homens e mulheres de bem: NÓS NÃO QUEREMOS LEVAR BANDIDO NENHUM PRA CASA! Por que demônios vocês se sentem tão agredidos quando alguém tenta pensar para além dos domínios do indivíduo e de seu umbigo cascudo de sujeira? Véi, quando eu não fico de pé, emocionado e em lágrimas por conta da morte ou sofrimento de uma pessoa, eu me considero plenamente consciente das minhas faculdades mentais. Não dá pra achar que a morte de um cara vá lavar a alma de todas as vítimas da violência urbana. Por quê? Porque simplesmente não vai! É límpido e cristalino. Qual o fundamento, que não seja, sei lá, o código de Hamurabi, feito há uns 4 mil anos atrás, que dá validade a uma opinião como essa? Se você acredita nisso, sonolento leitor, cuidado para não proferir por aí a fadicídia sentença: “Eu não acredito em fadas!”. Peter Pan ficaria tristíssimo com você.  Não há lógica em sua opinião como não há fundamento para legitimar a violência de Estado.

 
Você não vai querer fazer isso.
Agora, caríssimo, se ainda está perdido no emaranhado de meus encaracolados argumentos, fique tranqüilo que não vai melhorar. Como não quero levar nenhum bandido para casa eu também NÃO VOU ESPERAR ATÉ ALGUÈM APONTAR UMA ARMA PARA ALGUÉM DA MINHA FAMÍLIA. Sério que vocês só conseguem repetir o que diz o Marcelo Resende? Eu, como boa parte das pessoas que conheço, já tive casos de violência extrema acontecendo com os que amo. Amigos morreram dos dois lados dessa cena e, acredite, eu não me senti vingado em nenhuma das situações. Que fique claro que eu acho ainda que são tipos de violência totalmente distintas. A de Estado é muito mais problemática que todas, sendo a principal culpada e desencadeadora das outras.

Tá firmão, tranqüilo. Agora vocês vão dizer. “AH É!? PORQUE QUE VOCÊ NÃO VAI PRA CUBA ENTÂO!?” Aí volta a diarréia como sistema e o vômito como regra. Amigos... Percebem que tudo o que dizem é fruto de uma construção muito bem elaborada de preconceitos e estigmas. Impossível dialogar quando o que impera é um senso maniqueísta que não vê saída possível sem que uma das partes seja obliterada ou exilada numa ilha caribenha. Não há possibilidade democrática que se mantenha sem que haja ao menos uma chance para o contra-discurso. Percebam aqui que sou pessimista quanto a possibilidade de qualquer enunciado que relativize a fúria classista. Experimente, por exemplo, dizer que o que houve no Carandiru há 20 anos foi um massacre, não uma justa limpeza social. Ta foda!

 
Se tá deixando ele triste

Mas suave. Não me alongo por aqui com medo de me contradizer, cheio de esperança num futuro post. Por enquanto o que fica é a virose. A caganeira da revolta bem comportada e o gorfo, proferido com gosto de minha confortável cadeira almofadada.